mas quem é que vai me explicar? será o mar? quem é que vai me dizer? por onde ir? a quem amar? que mão pegar? a tarde inteira não é o bastante, não há onda atrás de onda que me alcance, não há beijo nem um cheiro que não me encante, não há mente que não me engane. e se eu errar mais uma vez, quem é que vai me tirar? quem é que vai me mostrar? como voltar? como enxergar? a que ignorar? se um coração cheio de chagas, um bobo, um lobo, um doente que não vale a água; e por que caras, ele precisa latejar? e por que cargas, ele não tem amor pra dar? eu quero um olho, um revolto, um estômago que seja meu, que seja louco; eu quero paz, quero saber se essa loucura é mesmo minha, é mesmo nossa, é mesmo linda. ou se é uma fossa. se meu peito quer sair voando, é ele santo, é ele certo em me dizer que lhe impulsione? porque se alguém inda disser que eu lhe mereço, eu planto um dedo, eu ponho a roda, puxo a saia da baiana, se tiver. eu vou com sede ao pão-de-mel que ela me der.