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quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Mulher

Me veio em tentação, latente
Insistente
E briguei com meu velho Deus.
Rasguei as páginas do testamento
Que te condenavam
E chorei, mulher.

Mas era tu, não tinha escolha.
Lá dentro a vida transcendia
Por fora me agredia, e eu te perdia
Então parti.
Nada nas mãos, exceto as tuas.

Beijamos até não ter mais fim
E suamos de medo, naquelas ruas
Apertamos mais forte os dedos
“Nunca, nunca soltar
Depois do primeiro enfrentamento”
Você sorriu pra mim.

Seu riso, o rasgo bom no meu peito
Refúgio da solidão, da dor, do medo
Luta, entre as tuas pernas, morte em teu olhar
E a entrega da cruz a quem pertence
Deixemos-lhes suar

Pois somos duas, só, amor
Duas, nós, mais ninguém.
E nesse universo, que é dentro e fora
Me tens
E sou
irremediavelmente tua
Mulher.






quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Coração

Existe um laço entre a sua respiração e a minha, amor. De um portal que a coordenação dos nossos movimentos rompeu. Que me leva pros teus braços enquanto esperamos a volta sem fuga. E quanto mais forte eu respiro, mais sem ar fico. Embriagada. Sentindo.

Há mil discos entre o seu ouvido e o meu. Acordes e palavras decoradas entre as ondas que te cercam e te trazem, tão bonitas, até mim. Para cada nota, um desejo. Uma dor, uma alegria e um segredo.

Tem um borrão entre os meus olhos e os teus. As profundezas de dois corações aflitos. Donde jorra água cristalina e espessa. É uma paisagem - um mato, com cheiro de mato. Uma nascente amarela, brisa leve. Voam borboletas azuis.

Há, em nossos hiatos, um poço. A ânsia do novo encontro. A procura continua da hora para começar a ser feliz. Para sentir a chuva em nossos corpos, no fim do infindo intervalo. Para chegar, enfim, ao toque. Rindo. Línguas e dentes e a sede de todo o sal do mar. Dormir.

O universo reside entre o meu sorriso e o teu. Ele está num caminho florido e sinuoso. Na Bahia. Numa poesia, na xícara de café, no beijo. Está no ponto e seu dragão. E quanto mais se expande, tanto mais oprime. Quanto mais aperta, mais exige. Tudo vira brincadeira. E, tamanha verdade é, resiste. 

No oceano onde mergulham minhas mãos e as suas, faço-me nua. Deixo-me, tua. E nesse espaço entre a minha vida e a sua, tão perto quanto olhar para o lado, tão longe quanto um condenado, preso; respiro. Sinto. Me enfio em seus cabelos, beijo a sua mão. Suspiro...


Nada é pra já. Paradoxo temporal entre o meu presente e o seu. Um céu pixelado. Um devaneio. Eterno flerte.