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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Olho por olho

Hoje eu sou contra a vingança. Pagar na mesma moeda, dar o troco e mesquinharias afins. Ontem, por outro lado, sofri uma tentação incontrolável de retribuir alguns desagrados que recebi. E, amanhã, eu vou olhar com desprezo as tentativas de provocação que me forem lançadas. Porque hoje eu senti uma demonstração de afeto tão bonita. E ontem eu entrei num clima humano tão cruel. E amanhã, quem sabe, meu espírito esteja em um dos seus momentos de evolução... como há tanto tempo ele não fica. Mas mesmo que eu não aja sempre da mesma forma, eu sei que se a lex talionis for colocada em prática, realmente, o amor acabará.

domingo, 21 de março de 2010

Medos antepassados

Egoísmo entregue, dedicada proteção
um deus, alguém, dois olhos tristes
Se um peito aberto e nada o mesmo foi
demasiado baixo aos pedestais que insistem

E o poeta não quer ser pequeno
quer ser usado, sem pensar na dor
E seus abraços hoje tão calados
Inda carecem espargir amor

Ah, medos antepassados, passados que presenteiam
nossos dias apaixonados
de maldade a derrubar esteios

Se do que foi ficam lições e medos
sou desalmado
aluno sem receios


terça-feira, 2 de março de 2010

Para uma Menina com uma Flor

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Assim Sucedeu

Assim,
Começou assim
Uma coisa sem graça
Coisa boba que passa
Que ninguém percebeu

Assim,
Depois ficou assim
Quis fazer um carinho,
Receber um carinho,
E você percebeu

Fez-se uma pausa no tempo
Cessou todo meu pensamento
E como acontece uma flor
Também acontece o amor

Assim,
Sucedeu assim,
E foi tão de repente
Que a cabeça da gente
Vira só coração
Não poderia supor
Que o amor nos pudesse prender,
Abriu-se em meu peito um vulcão
E nasceu a paixão

Tom Jobim

sábado, 9 de janeiro de 2010

O amor, quando se revela...

Eu queria escrever hoje um verso meu. Mas me vem Cazuza, me vem Pessoa, me vem Chico Buarque na cabeça... e eles são tão perfeitos na definição dos sentimentos, que eu me pergunto: pra que é que eu vou criar algo novo, se o que eu quero dizer já tá mais do que dito, e muito bem dito, pelos mestres da poesia?
Tipo assim:

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

sobre o mar

mas quem é que vai me explicar? será o mar? quem é que vai me dizer? por onde ir? a quem amar? que mão pegar? a tarde inteira não é o bastante, não há onda atrás de onda que me alcance, não há beijo nem um cheiro que não me encante, não há mente que não me engane. e se eu errar mais uma vez, quem é que vai me tirar? quem é que vai me mostrar? como voltar? como enxergar? a que ignorar? se um coração cheio de chagas, um bobo, um lobo, um doente que não vale a água; e por que caras, ele precisa latejar? e por que cargas, ele não tem amor pra dar? eu quero um olho, um revolto, um estômago que seja meu, que seja louco; eu quero paz, quero saber se essa loucura é mesmo minha, é mesmo nossa, é mesmo linda. ou se é uma fossa. se meu peito quer sair voando, é ele santo, é ele certo em me dizer que lhe impulsione? porque se alguém inda disser que eu lhe mereço, eu planto um dedo, eu ponho a roda, puxo a saia da baiana, se tiver. eu vou com sede ao pão-de-mel que ela me der.