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quarta-feira, 8 de março de 2017

Nada de choro, querida.

Quando eu era criança (devia ter uns 3 ou 4 anos) meus pais compravam vários livros educativos e liam para mim e para o meu irmão com frequência. Por um desses livros eu desenvolvi um carinho especial.

A história era sobre a frustração da Minnie com seu chapéu, que era muito feio para ela poder passear. Mickey, então, lhe consolava, dizendo para ela não chorar, pois para tudo havia um jeito na vida. Eles colheriam as flores no jardim e o chapéu viraria uma festa. Poderiam, assim, passear contentes pela floresta.

Meus pais leram essa história para mim tantas vezes que eu a decorei (assim como eles, e meu irmão, e todas as pessoas que me rodeavam, provavelmente). Saía com o livro na mão repetindo tudo, na ordem, puerilmente ostentando a dificuldade natural da idade na pronunciação dos erres.

Quando percebia que as pessoas ficavam espantadas - afinal, eu era uma criança muito nova para saber ler -, a pequena Marina dava ênfase na encenação, acompanhando atentamente as letrinhas, semblante franzido, páginas viradas com precisão temporal. Naquelas horas eu me sentia uma mágica apresentando seu número à plateia. Teatralmente comedida, sorria por dentro.


De toda aquela diversão, no entanto, tirei algo que na época não faria tanto sentido. Uma frase que reverbera em minha mente até hoje, especialmente nos momentos em que enfrento um problema para o qual não consigo ver saída.

Eu continuo buscando respostas em livros. Continuo desenvolvendo carinho especial por alguns deles. E quando os leio e lá encontro a luz (ou quando a encontro de qualquer outra forma), não é mais o Mickey que ouço, ou a Minnie ou meus pais. É a pequena Marina que sinto, confiante e objetiva, que sussurra lá do meu inconsciente:

"Nada de choro, querida, para tudo há um jeito na vida."

Ela sempre tem razão.

Na busca por elucidações descobri que, enquanto a resposta não vem, a gente espera. E finge. Finge que sabe o que está fazendo, finge que entende, fingir que lê. Mas finge com fé. Finge de um jeito honesto. Finge se divertindo.

Eventualmente, como num passe de mágica, a solução estará lá. Porque sim, para tudo há um jeito. Ela tomará o lugar do fingimento, e sorriremos também por dentro.

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