As semanas são solitárias.
Notícias chegam como um boletim para a família de um paciente enfermo. Protocolares.
E eu, como esta família, permaneço inerte. No aguardo.
Inquieta, preocupada, prevendo o pior. Antecipando o que os médicos sem dúvidas estão tentando esconder para me preservar.
Ainda há batimentos, afinal.
Quando os olhos se encontram, há águas. Há fogo. Há luz.
Piscando, opaca, mas lá. Como a lua que nossos olhos encontram surpresos de repente num céu do qual ela parecia ter desistido de aparecer naquela noite.
E quando as mãos se entrelaçam, ainda há calor. E os abraços ainda não são estranhos.
Há batimentos.
Há dois corações. E batem.
Perdidos na lonjura das fibras que lhe teceram, no entanto, já não se escutam mais.
Teias de medo que lhes envolvem as válvulas, lhe amordaçam. bem, len, ta, men, te.
Silêncio.
Vem pra longe, aqui é seguro.
A solidão é segura. É refúgio.
Retiro de uns. Pesadelo de outros.
Protetora e delatora.
O que estou fazendo nessa sala de espera? Intuição ou neurose?
Na solidão já estou. Que dor assumir isso. Migalhas estéreis. Boletins protocolares, é o que tenho.
Mas e o futuro? E o auto cuidado? E a esperança? E os limites? E a paciência? E a vida passando? E o amor?
Que medo congelou meu coração? Que medo alheio vai deixá-lo em estilhaços?
Inanição de amor. Rigor mortis. Frio.
Não há mais o que temer.
A não ser me ver crua no espelho. Dar a mim mesma meu próprio colo. Me agigantar. Matar a pena.
Não há mais o que temer.
A não ser encarar a ferida que nunca fechou. O objeto do reflexo.
Não há mais o que temer.
A não ser desafiar meu ego. Ver nele a dor da criança que lhe pariu.
Não há mais o que temer.
A não ser a vida que ainda pulsa, insistente.
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