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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Solidão

As semanas são solitárias. 

Notícias chegam como um boletim para a família de um paciente enfermo. Protocolares.

E eu, como esta família, permaneço inerte. No aguardo.

Inquieta, preocupada, prevendo o pior. Antecipando o que os médicos sem dúvidas estão tentando esconder para me preservar.

Ainda há batimentos, afinal.

Quando os olhos se encontram, há águas. Há fogo. Há luz. 

Piscando, opaca, mas lá. Como a lua que nossos olhos encontram surpresos de repente num céu do qual ela parecia ter desistido de aparecer naquela noite.

E quando as mãos se entrelaçam, ainda há calor. E os abraços ainda não são estranhos.

Há batimentos.

Há dois corações. E batem.

Perdidos na lonjura das fibras que lhe teceram, no entanto, já não se escutam mais.

Teias de medo que lhes envolvem as válvulas, lhe amordaçam. bem, len, ta, men, te. 

Silêncio.

Vem pra longe, aqui é seguro. 

A solidão é segura. É refúgio. 

Retiro de uns. Pesadelo de outros.

Protetora e delatora.

O que estou fazendo nessa sala de espera? Intuição ou neurose?

Na solidão já estou. Que dor assumir isso. Migalhas estéreis. Boletins protocolares, é o que tenho. 

Mas e o futuro? E o auto cuidado? E a esperança? E os limites? E a paciência? E a vida passando? E o amor?

Que medo congelou meu coração? Que medo alheio vai deixá-lo em estilhaços? 

Inanição de amor. Rigor mortis. Frio.

Não há mais o que temer. 

A não ser me ver crua no espelho. Dar a mim mesma meu próprio colo. Me agigantar. Matar a pena. 

Não há mais o que temer. 

A não ser encarar a ferida que nunca fechou. O objeto do reflexo.

Não há mais o que temer. 

A não ser desafiar meu ego. Ver nele a dor da criança que lhe pariu.

Não há mais o que temer. 

A não ser a vida que ainda pulsa, insistente.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Goodbye My Lover

 Goodbye My Lover, from James Blunt. This is the song I used to listen to 10 years ago, when my heart tried hard to let go of what felt like a dam. It was an overpowering feeling. It could light up an entire city. A gargantuan monument - created by men. Fears and shadows. A breathtaking landscape - made of concrete. A ruptured dam that although magnificent destroyed everything ahead of it. 


This is the song that I picture you listening to while you feel the sorrow of an unfinished love story that harmed you in some ways while making you feel alive in others. I felt the pain of having to let go from a splendorous harmful love. And it makes me think of how hard you've tried to be with me while managing all these feelings within you. How hard you've tried to be with me, while staring at that dam - from a distance. To surrender to me, while holding it tight - so it wouldn't break. To love me, while knowing you would have to walk back and face it. 


So now, when I look back, I think our story tasted like fresh coffee. Strong, warm, comfy - that we hold nearby and the smell makes us close our eyes and smile peacefully. A fresh coffee that is all that, and yet ephemeral. When one doesn't drink it immediately, it gets cold. Warming it up is useless after all - coffee loses what makes it good quickly. And maybe a year ago you would not mind drinking cold coffee. Now I know you do. Perhaps cold coffee becomes less attractive when someone is preparing a new one. Especially when this someone is our own selves. Fresh coffee is good because it is fresh.


I miss that taste. I miss the careful work of preparing it. Filling up the kettle, waiting patiently for the water to boil. Grabbing the pot, measuring the right amount of powder. I miss feeling it in the morning, planning it for the weekend. Its warmth in my hands. I miss bringing it to you on a busy day. I miss everything that accompanied it. Smiles with closed eyes under the sun. All nighter dissertation. Screaming the lungs out on Shakira. Tough conversations. An alcoholic spice while chasing the Northern Lights. I miss that short-lived taste. I miss that firm, hearty, cozy taste.  


But I had never seen us like that. Like a liquid we put in a cup taken from the cabinet. Something we enjoy for a while, and leave somewhere with some undrinkable residue at the bottom. So it is still weird for me to witness the fragility of our relationship. To observe its sublimation process: from solid to steam. From life plans to confusion, rage, and silence. To complete emptiness. 


Maybe, to protect my heart, I've turned my face to the signs that it could never be more than that. Perhaps I've turned my face to you because I was afraid to see the truth. Maybe I didn't offer what you needed. I wonder how much of you I haven't seen while I was right beside you. Maybe I was selfish. Maybe I am not someone you want to have as a partner, maybe not even in your life. Maybe. I don't know. 


It's been almost two months since I told you that I wanted to try again. Almost 60 days you told me you would let me know when you were ready to talk. When you told me: "I will really let you know. It won't take long". Maybe this silence is the answer. Maybe not. 


Two months ago, I did want to uncover this bunch of "maybes". I did want to listen, learn, and try again. Now I'm thinking that, once more, I am being blind and selfish. Again, I am refusing to see you. Once again, you make it clear that you are not available to me emotionally. Through acts, through words, through the absence of them. That is why I write these words. To try and expel the words that I am realising will never be said. To remember the songs that will never be sent. To feel the feelings I will never share. 


I swore that I would listen to that song from James Blunt no more than once. And trying to warm this coffee up is bringing that same bitter taste to my mouth. My mind is feeling abandoned and betrayed. But my heart is done hoping for more. My mind refuses to close this story like this. But my heart just wants to surrender to gratitude and acceptance for the cup we have shared.


Goodbye my lover. I hope we don't ever have to kneel at someone's feet again, in our pursuit for love. And although we know we have not been the one to each other, I love you, I swear that's true.

terça-feira, 21 de março de 2023

Cidade

A cidade testemunha solitária
meu sorriso

Não há carros, não há movimento

A não ser o olhar verde dos sinais
Permitindo que a minha alegria passe
Perdure

Não há dores, não há tormento

A não ser a luz verde de seu olhar
Impune

Presenteando-me adolescência
Febre
Entranhas, suor

Um beijo
Ao qual jamais serei imune

Pelas ruas da cidade calada
Invento

Um minuto a mais
Quem dera

Levando seu cheiro comigo

Pudera.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Gratidão pelo nosso grande amor

Ontem no banho de imersão que ganhei dela senti muita gratidão. Apesar de o oráculo ter me orientado a buscar essa gratidão, antes mesmo de chegar onde estamos, estava muito difícil pra mim olhar através dessas lentes. Eu senti tristeza, frustração, raiva. Mas não conseguia acessar a gratidão.

Acho que quando um relacionamento intenso - por vezes turbulento - no qual a gente, ainda assim, foi muito feliz, está fragilizado, ou termina, às vezes parece que toda aquela felicidade foi tão pouca. Tão pouca, perto do que ainda poderia ter sido. Tão pouca, perto do amor que ainda é tão grande. Tão pouca, perto de uma vida inteira pela frente. Sem ela.

A gente, quando ainda sente muito amor, quer mais. E mais. E mais. Porque, ao contrário do partilhar da vida, esse amor segue vivo. Ele não morreu. A troca morreu. Ele não. Segue vivo, muito vivo. Segue alimentando ilusões. Ilusões sobre um futuro incerto. Será que ela ainda pensa em mim? Será que ainda existe uma chance pra nós? Será que essa angústia vai passar?

Nosso coração segue sentindo os desejos. Os desejos, sobre os quais ela falava tanto. O desejo e a ausência da sua realização. O desejo e a frustração. O ter muito, e sempre querer mais. É na falta que a vida acontece, ela dizia. A vida é um monte de faltas. E como é difícil sentir gratidão quando tem um rombo no nosso peito. Quando parece que falta uma parte do nosso coração.

Mas ontem, quando aquela água morna aconchegou meu corpo, quando o sal grosso escorreu por entre os meus dedos, derretendo lentamente ao fundo da banheira, quando o aroma de verbena viajou delicadamente pelo ar, e a espuma que, se moldando às minhas mãos distraídas, testemunhou a dor que eu cuidadosamente do meu peito removia, ali, naquele lugar tão calmo, tão bonito, tão meticulosamente arrumado para o meu conforto, eu senti gratidão.

Naquele momento eu existia para receber amor. Eu recebia um amor do passado. E mesmo sabendo que talvez ele não volte mais, mesmo sabendo que agora preciso deixar essa vontade louca de você descer pelo ralo junto com a espuma da banheira, eu senti que valeu a pena. Ter vivido tudo o que vivemos, para agora estar sentindo esse amor retroativo.

Ter me entregado a essa paixão. Insistir nela, lá no começo, quando você desviava o olhar, querendo se distrair de mim. Valeu a pena sair de casa, explorar o mundo, construir um lar com você. Valeu a pena o carnaval. Valeu a pena o surfe. Valeu a pena os bilhetes. Os quadros novos. As conversas profundas. As gargalhadas infinitas. Os sanduíches no meio das nuvens e das estradas vazias. Os girassóis. Valeu a pena sentir a dor. Valeu a pena sentir a esperança. Valeu a pena viver um grande amor com você, meu amor. Eu agradeço.


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Não te amo mais

Não te amo mais.

Sua jaqueta de relance na foto

Já não faz meu coração bater.


Seu rosto entre os das outras pessoas

Já não é o que atrai o meu olhar.


Não te penso mais como antes

Não te desejo na minha cama.


A não ser quando me deito.

A não ser quando fecho os olhos.


Você sorri, como se, depois de tudo, ainda me tivesse

Mas eu preciso que saiba: eu não te amo mais.


Não sinto vontade de ler tuas palavras

Ou te escrever cantadas, te encantar.


Não quero mais sentir teu cheiro

Nem o calor da tua respiração.


Não quero mais rir até doer

Nem dar oi-abraço demorado.


Não quero dormir ao teu lado

Nem subir montanhas contigo.


Não quero pensar nos nossos planos

Nem sei mais o que combinamos.


Eu não te sinto mais.

Não te desejo mais.

Não te quero mais.


A não ser quando me esqueço 

Se me rendo, me distraio

Se amoleço


A não ser quando respiro…

Preciso que saiba:

Que não te amo. Eu não te amo mais.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Armordaçado

Abri de novo os olhos e lá estavam os seus. Me observavam de cima. Tomava meus cabelos pela mão. Firme. Meus movimentos guiados na direção do seu prazer. 

Eu explorava seus cantos sem pressa, oferecendo a sustentação dos meus ossos, a força dos meus músculos e o calor da minha pele. Entregaria minha alma, naquele momento, se assim lhe conviesse. 

Confessei uma submissão contente no meu semblante. Estava diante de uma mulher brutal. “Eu te amo tanto”, sussurrei, sem me dar conta, em pensamento. Olhos ainda fixados. 

Sem desviar, percorri seu corpo, ligando todos os pontos de luz e sombra passíveis de captura por uma lente apurada. O tempo se distraía. Se alguém dissesse que uma nova estação havia chegado, eu acreditaria. 

Quebrei a contemplação. O amanhecer de todas as primaveras encontraram, no meu corpo escasso, espaço para florescer. Violentamente. Encostei meu rosto, pernas e tudo o que pude encontrar de mim nela. 

Inalei sua respiração. Ar, chuva, brasa e chão corriam agora pelas minhas veias. Eu já não me rendia mais. Eu engolia. 

Deixei entrar todos os medos, dores, desejos, angústias, alegrias, espantos e fascínios que haviam me trazido até ali. E quanto mais eu me abria, mais impetuosa a lava. Mais ensandecido o corpo. Mais alta aquela voz calada protestava. 

Não deixei que me tocasse. Naquela noite, havia sido uma janela o canal para todos os córregos que haviam em mim. Naquela noite, magma, solo, sopro e mar escolhiam nascer, morrer e renascer pela fresta de uma mirada. 

Dos seus olhos, colhi a verdade que me inundava. Dos meus olhos, eu deixaria que voasse - encharcado, alucinado, libertado - o gozo desse amor por tanto tempo amordaçado.


segunda-feira, 12 de abril de 2021

Sem mais

Tristeza deixaste
Quando a porta fechaste
Em busca de paz.

Arranca, minha criança

Coragem, minha criança!
Faltam quantos segundos
Pra ver sua vida passar?
As janelas fechar?
Aquele trem não pegar?
A paisagem não ver?
Ao seu lado
Quantos toques não tocados
Beijos não beijados?
Arranca, minha criança,
Aí de dentro a força
De viver sem meias lembranças.



El amor

El amor me ha hecho volar
A creer tanto hasta partir
A atravesar un continente
A conocer toda la gente
A derretirme de compasión

El amor me enseñó a hablar
Me llenó de sabores
Amargos y picantes
De besos
Tan certeros
Como cálidos
Silenciosos y distantes

El amor me ha dado un latir de vida
Y me lo ha quitado
Me ha permitido sonreir
Y a sentir los árboles moviendose
El dolor de no tener salida
De no poder moverme 
Como ellos

Me llevó lejos de quien amaba
Cerca de quien me hizo sangrar
Me puso en una pelicula
A ver el sol ponerse
en silêncio
El más ensordecedor que he oido
Con manos y corazones abrazados
Paradójicamente
Despertando mis miedos más sombrios

El amor me dejó el pecho abierto 
Bajo la luna que me hacia el conteo de las horas
Una cascada a la cual solo yo podría contener
Y en medio de dolor y lagrimas
El amor me regaló también coraje
Para veer cosas lindas
Probar cosas ricas
Y por fin volver a mi misma

En un avión
Para morir con esta historia
Arrancar del pecho los gritos
Escuchar finalmente a mis instintos
Dejarle sole
Cómo debió haber sido
Desde el principio
Y de ahí lentamente renacer.