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sábado, 5 de abril de 2008

Tudo mentira.

O império da vaidade é o principal financiador da persuasão falsa. O homem e a mulher, desde que se percebem em sociedade, sentem necessidade de ser notados, elogiados, bajulados. As crianças gritam, choram e rodam para os seus pais. Os adultos têm suas artimanhas. A diferença é que, para a maioria destes, chamar a atenção apenas do companheiro não basta. A presunção vai além da cerca.
Há, é claro, os transparentes, raros cidadãos. Geralmente passados para trás. Senão vejamos: para não mentir faz-se indispensável não agir erroneamente. Não agir é não gritar, chorar ou rodar. Como então se fará notar o sujeito? Quem não seduz não dança. Quem não quer dançar é porque falta-lhe fatuidade. Sem vaidade, portanto, não há dança. Quem não dança não engana. Só é enganado.
Não proponho aqui um complô contra a falsidade, não me apedrejem. Logo o sujeito leal aprende a ser adulto e passa a viver também na ficção. Esconder a verdade, afinal, é proteger quem amamos da solidão! Que triste seria a vida sem um cobertor de orelha, uma boca à disposição, uma mão quente, não?
Que essa mão segure a sua e de mais gente, todavia, é a forma mais crua de ermo que existe.
Infelizmente, só se transforma em gente grande a criança que aprende como a mentira é importante. Porque é inútil debater-se: o mal do século é mesmo a solidão. Cada um de nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Somos eu

Certa vez, um homem veio bater à porta de seu amigo.
Seu amigo disse: Quem és tu, ó homem fiel?
Ele disse: Sou eu.
O outro respondeu: Não podes entrar,
Não há lugar para o ‘cru’ em meu bem cozido banquete.
O pobre homem se foi, e por um ano inteiro
Viajou ardendo de dor pela ausência do amigo.
Seu coração ardeu até que cozinhou;
Então ele voltou e bateu à porta da casa de seu amigo.
Seu amigo gritou: Quem está à minha porta?
Ele respondeu: És tu que estás à porta, ó Amado!
O amigo disse: Já que sou eu, que eu entre;
Não há lugar para dois ‘eus’ em uma só casa.

Jalaluddin Rumi,
MASNAVI

quinta-feira, 20 de março de 2008

Paroles au Canapé

Parole, pariez, doute.
Espoir. Doute.
Demande, mensonge, doute.

Un jour je vais écrire un livre.

Ops, il faut que j´aille me faire belle.
Pour qui? Hum. On sait jamais.

À quelqu'un d'obtenir le meilleur de vous?

sexta-feira, 14 de março de 2008

Um grande amor

Um grande amor, quando termina, termina. Se longo e intenso, se dolorido, traz alívio. Por outro lado, o curto, ao findar, deixa no peito um ponto. De interrogação.
Mas os grandes amores têm a queima dos navios em comum, têm as travessuras das noites eternas, a confusão das pernas, têm enlaces, pisadas em comum. Quando eles terminam fica a lembrança. E como todo grande amor pressupõe um cálculo em que o resultado final é sempre "felicidade positivo", as memórias mais freqüentes são aquelas que encheram o peito de alegria, ou que marejaram olhos, fazendo-os brilhar.
É difícil deixar ir um grande amor da mente. Todos os rivais são comparados, inconscientemente. Todos os mínimos atos do grande amor são observados e julgados e, inevitavelmente, por uma fração de segundo temos certeza absoluta de que aquela indireta foi para nós. O porém é que certeza absoluta conjectura paixão e pensamentos passioais se perdem no infinito. Logo vem a razão bater à nossa porta e com ela as dúvidas. E aí pesamos. E aí a aflição, novamente.
Se livrar de um verdadeiro grande amor não é tarefa para qualquer pelego. Há que ser valente o bastante para enfrentar o desconhecido amante, e paciente o suficiente para enganar o coração da gente. Pois uma hora ele acredita que os momentos vividos no passado nem foram assim tão ímpares e que daí a um "novo grande amor" são dois palitos.
Afinal, somos nós que os pintamos de ouro e os cobrimos de cores. Parece perfeito depois que acaba. Mas a magia do grande amor limitado é justamente a sua condição de exausto. Só assim ele é visto de longe, só assim se protege da rotina e só assim conta com essa fantástica e utópica força que é o querer aquilo que parece impossível, mania do ser humano.
O grande amor finito vai estar sempre ali, orbitando, lindo, intocável, cheio de dúvidas e mistérios.
E é por isso que um grande amor quando termina, termina. Mas nunca acaba.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Antología


Dos tempos áureos da Shakira!...

Para amarte necesito una razón
Y es difícil creer que no exista
Una más que este amor

Sobra tanto dentro
De este corazón
Que a pesar de que dicen
Que los años son sabios
Todavía se siente el dolor

Porque todo el tiempo
Que pasé junto a ti
Dejo tejido su hilo dentro de mí

Y aprendí a quitar al tiempo los segundos
Tu me hiciste ver el cielo aún más profundo
Junto a ti creo que aumenté más de tres kilos
Con tus tantos dulces besos repartidos
Desarrollaste mi sentido del olfato
Y fue por ti que aprendí a querer los gatos
Despegaste del cemento mis zapatos
Para escapar los dos volando un rato

Pero olvidaste una final instrucción
Porque aún no sé como vivir sin tu amor!

Y descubrí lo que significa una rosa
Me enseñaste a decir mentiras piadosas,
Para poder verte a horas no adecuadas
Y a reemplazar palabras por miradas
Y fue por ti que escribí más de cien canciones
Y hasta perdoné tus equivocaciones
Y conoci más de mil formas de besar
Y fue por ti que descubrí lo que es amar
Lo que es amar

domingo, 9 de março de 2008

Mutante

Juro que não vai doer
Se um dia eu roubar
O seu anel de brilhantes
Afinal de contas dei meu coração
E você pôs na estante
Como um troféu
No meio da bugiganga
Você me deixou de tanga
Ai de mim que sou romântica!

Kiss me baby, kiss me
Pena que você não me kiss
Não me suicidei por um triz
Ai de mim que sou assim!

Juro que eu me sinto um pouco rejeitada
Me dá um nó na garganta
Choro até secar a alma de toda mágoa
Depois eu passo pra outra
Como mutante
No fundo sempre sozinho
Seguindo o meu caminho
Ai de mim que sou romântica!

Kiss me baby, kiss me
Pena que você não me kiss
Não me suicidei por um triz
Ai de mim que sou assim!

(Rita Lee / Roberto de Carvalho)

sexta-feira, 7 de março de 2008

Juno



Eu ia falar alguma coisa sobre o filme mas, depois de ler esse post, perdi a coragem:

http://smusica.blogspot.com/2008/02/trilha-sonora-juno.html

terça-feira, 4 de março de 2008

Pensionato

Este seu olhar
Quando encontra o meu
Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar
Doce é sonhar
É pensar que você
Gosta de mim
Como eu de você
Mas a ilusão
Quando se desfaz
Dói no coração de quem sonhou
Sonhou demais
Ah, se eu pudesse entender
O que dizem seus olhos

Vinicius de Moraes

Volta e meia eu esbarro nessa palavra, a tal da saudade. E sinto pena dos que não a têm no idioma maternal. Ça me manque, tu me manques, I miss you, I miss it, nostalgia... não é a mesma coisa. Neste sentido, viajando por aí descobri que a cultura está muito relacionada aos sentimentos vividos pelos povos. E que a língua falada está diretamente ligada ao sentimento. Afinal, é uma das formas - e não há como negar sua relevância, basta ler poemas - como os exprimimos. Por isso eu pergunto: se eles não sabem traduzir a palavra SAUDADE, sabem eles senti-LA?