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terça-feira, 9 de julho de 2013

Eu tenho tempo

Primeira vez que li esse texto tinha 15 anos. Anotei ele na minha agenda toda colorida, cheia de bilhetes, fotos e letras de música, e reli tantas vezes que praticamente decorei. Apesar de simples, ele é muito bonito, fala muitas verdades e me traz uma sensação boa de teletransporte aos intensos tempos de colégio...

Hoje, ao atender o telefone que insistentemente exigia atenção, o meu mundo desabou. Entre soluços e lamentos, a voz do outro lado da linha me informava que o meu melhor amigo, meu companheiro de jornada, meu ombro camarada, havia sofrido um grave acidente, vindo a falecer quase que instantaneamente.
Lembro de ter desligado o telefone e caminhado a passos lentos para o meu quarto, meu refúgio particular. As imagens de minha juventude vieram quase que instantaneamente à mente. A faculdade, as bebedeiras, as conversas em volta da lareira até altas horas da noite, os amores não correspondidos, as confidências ao pé do ouvido, as colas, a cumplicidade, os sorrisos. Ahhh, os sorrisos – como eram fáceis de surgir naquela época. Lembrei da formatura, de um novo horizonte surgindo, das lágrimas e despedidas e, principalmente, das promessas de novos encontros.
Lembro perfeitamente de cada feição do melhor amigo que já tive em toda a vida: em seus olhos a promessa de que eu nunca seria esquecido. E realmente, nunca fui. Perdi a conta das vezes em que ele carinhosamente me ligava quando eu estava no fundo do poço. Ou das mensagens – que nunca respondi – que ele constantemente me enviava, enchendo minha caixa postal eletrônica de esperanças e promessas de um futuro melhor.
Lembro que foi o seu rosto preocupado que vi quando acordei de minha cirurgia para retirada do apêndice. Lembro que foi em seu ombro que chorei a perda de meu amado pai. Foi em seu ouvido que derramei as lamentações do noivado desfeito.
Apesar do esforço para vasculhar minha mente, não consegui me lembrar de uma só vez em que tenha pego o telefone para ligar e dizer a ele o quanto era importante para mim contar com a sua amizade. Afinal, eu era um homem muito ocupado. Eu não tinha tempo. Não lembro de uma só vez em que me preocupei de procurar um texto edificante e enviar para ele, ou qualquer outro amigo, com o intuito de tornar o seu dia melhor. Eu não tinha tempo.
Não lembro de ter feito qualquer tipo de surpresa, como aparecer de repente com uma pizza e um coração aberto disposto a ouvir. Eu não tinha tempo. Não lembro de qualquer dia em que eu estivesse disposto a ouvir os seus problemas. Eu não tinha tempo. Acho que eu nunca sequer imaginei que ele tinha problemas.
Só agora vejo com clareza o meu egoísmo. Talvez – e este talvez vai me acompanhar eternamente – se eu tivesse saído de meu pedestal egocêntrico e prestado um pouco de atenção, e despendido um pouquinho do meu sagrado tempo, meu grande amigo não teria bebido até não agüentar mais e não teria jogado sua vida fora ao perder o controle de um carro que, com certeza, não tinha a mínima condição de dirigir.
Talvez, ele, que sempre inundou o meu mundo com sua iluminada presença, estivesse se sentindo sozinho. Até mesmo as mensagens engraçadas que ele constantemente deixava em minha secretária eletrônica poderiam ser seu jeito de pedir ajuda. Aquelas mesmas mensagens que simplesmente apaguei da secretária eletrônica, jamais se apagarão da minha consciência.
Estas indagações que inundam agora o meu ser nunca mais terão resposta. A minha falta de tempo me impediu de respondê-las.


Agora, lentamente escolho uma roupa preta – digna do meu estado de espirito – e pego o telefone. Aviso o meu chefe de que não irei trabalhar hoje – e quem sabe nem amanha, nem depois -, pois irei tirar o dia para homenagear com meu pranto a uma das pessoas que mais amei nesta vida.
Ao desligar o telefone, com surpresa eu vejo, entre lagrimas e remorsos, que para isto, para acompanhar durante um dia inteiro o seu corpo sem vida, eu tive tempo!
Descobri que se você não toma as rédeas da sua vida o tempo o engole e escraviza. Trabalho com o mesmo afinco de sempre, mas somente sou “o profissional” durante o expediente normal. Fora dele, sou um ser humano. 
Nunca mais uma mensagem da minha secretária eletrônica ficou sem pelo menos um “oi” de retorno. Procuro constantemente encher a caixa eletrônica dos meus amigos com mensagens de amizade e dias melhores. Escrevo cartões de aniversário e de Natal, sempre lembrando as pessoas de como elas são importantes para mim. Abraço constantemente meus irmãos e minha família, pois os laços que nos unem são eternos. Acompanhei cada dentinho que nasceu na boquinha de meus filhos, o primeiro passo, o primeiro sorriso, a primeira palavra. São momentos inesquecíveis. Procuro sempre “fugir” com minha esposa e voltar aos tempos em que éramos namorados e prometíamos desbravar o mundo.
Esses momentos costumam desaparecer com o tempo, e todo o cuidado é pouco. É preciso cultivar o relacionamento como uma frágil flor que requer cuidados constantes, mas que te brinda com sua beleza inenarrável. Nunca mais deixei um amigo sem uma palavra de conforto; ou um inimigo sem uma oração. Distribuo sorrisos e abraços a todos que me rodeiam – afinal, para que guardá-los? Pelo menos uma vez por mês levo minha família a praia. Carrego a certeza de que sempre terei tempo para o amor e suas formas mais variadas. E sabe de uma coisa? Eu sou muito, muito mais feliz!

Autor Desconhecido


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